sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Folha branca

Poucas coisas me deixam mais angustiada do que uma folha em branco. Eu não posso nem ver. Com uma caneta na mão eu rabisco um quadrado, sempre cheio e depois dele vários outros.
Há dias que a folha branca fica cheia de palavras soltas. Podem ser as palavras do interlocutor, ou as que primeiro vierem à minha cabeça. Depois, a mania de escrever é substituída pela de preencher as letras. As letras “O” ficam cheinhas, assim como as barriguinhas dos “Bs”.
Também não sei o motivo de fazer isso. Sei que não posso ficar parada frente à folha branca que parece gritar para ser preenchida. Eu tento. Nem sempre consigo. Acho que cada folha merece palavras específicas ou quadrados ou estrelas ou espirais únicas.
E quando a gente não consegue escrever as palavras que aquela folha branca pedia? Eu costumo guardar a folha. Não jogo fora. Ela é única, especial e dediquei a ela a minha melhor caligrafia, os minutos e a tinta da minha caneta. Guardo com carinho, por que essa folha nunca será igual a qualquer outra. Guardada, numa caixa especial bem fechada para que não amarele com o tempo e o sol, essa folha dá lugar à outra.
Acabei de guardar uma folha dessas. Eu, sinceramente, não queria deixá-la ir para a caixa. Tinha desenhos, palavras, estava amassada. Escrevi nela com canetas de várias cores, com brilho, opaca. Rabisquei nela com lápis de cor. Ficou linda, colorida, cheia de vida. Aquela folha branca, agora não mais pálida, foi colocada com cuidado e carinho na caixa das boas lembranças.
Agora, sobre a mesa, repousa uma folha branca nova, também única. Ainda não sei o que fazer com ela. Eu a olho e vejo a outra, a colorida, que eu ainda queria sobre a bancada. Talvez eu não tenha feito os desenhos como queria ou escrito as palavras que ela pedia.
Não consigo ouvir o que essa página nova quer de mim, o que grita, se quer palavras, desenhos, se quer virar uma dobradura. Não sei começo pelo canto direito superior ou o esquerdo inferior. Não sei o que fazer. Virar a página não é fácil e, às vezes, independe de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário