sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Que em 2011...

... eu arrume mais tempo para escrever aqui no blog;
... as pessoas dirijam com mais calma e paciência;
.... a gente possa trabalhar menos e passar mais tempo com quem a gente gosta;
... eu tenha menos cabelos brancos;
... eu possa viajar dentro de livros e de aviões;
... eu possa fotografar os chás de bebê e de panela das amigas;
... as pessoas possam doar-se sem pedir nada em troca;
... eu possa fazer um balanço e ver como cresci em 2011 e esperar que 2012 seja um ano ainda melhor.

Feliz Ano Novo!!! Feliz 2011!!
E até o ano que vem!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Carta aos noivos

É num pequeno gesto como a troca de olhares entre a Roberta e o Cristiano que a gente entende que por mais que a vida separe duas pessoas, o destino sempre a acaba as reaproximando. Basta conhecer a história dos dois para entender. Vizinhos desde infância, um dia, a Roberta olhou diferente para o Cristiano. E o Cristiano olhou diferente para aquela guria alta, meio desajeitada, que estava no auge da adolescência enquanto ele se virava com a farda do exército.
O namoro foi longo e repleto de descobertas. Foi um caminho trilhado junto. Até que um dia a Roberta seguiu por um lado e o Cristiano por outro. A vida é assim mesmo, prega peças, enche o caminho de buracos para que a gente desvie ou pule sobre eles.
O tempo passou. A Roberta virou uma mulher (cada vez mais alta) e decidida. Se mudou para Porto Alegre, cortou o cabelo, deixou crescer, viajou com as amigas, leu de um tudo, estudou francês, fez pós. Namorou também, mas o amor que ela tanto buscava estava ainda no mesmo lugar, numa rua de Esteio.
Até que em meados de 2008 o destino voltou atrás e decidiu brincar de novo com aquela guria ruiva. E o Cristiano bateu na porta da casa dela. E mandou e-mail, e mensagens para o celular e pelo MSN. E a Roberta desconfiada, não sabia se deveria dar a ele e a ela uma segunda chance. Bendito seja aquele "sim". Ou teria sido um "tá!". Ou um "ok". Não importa com que palavra ela concordou com aquele reencontro. Importa que ele a fez a voltar a sorrir como uma adolescente. A lembrar do que viveram "no nosso outro namoro" como eles gostam de dizer.
E hoje a Roberta vai subir ao altar para reencontrar o Cristiano mais uma vez. E lá, um dirá o sim para ou outro. Um sim que significa mais do que as juras de fidelidade e amor por toda a eternidade. Um sim que permita que os dois se reencontrem todos os dias, nas pequenas coisas, nas banalidades do cotidiano. Porque amar, pode ser reencontrar-se consigo nos olhos do outro.
Roberta e Cristiano, vocês tem a vida inteira para se reencontrar de novo. Vivam, amem, beijem, sejam felizes. Mas juntos. Para todo o sempre.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Sem listas

Ano passado esqueci de uma das tradições do Ano-Novo: fazer aquelas listas de metas para o ano que chega. Foi o maior acerto. Porque assim, 2010 me surpreendeu.
Primeiro com uma viagem. Dizem que a maior descoberta que a gente faz numa viagem é conhecer a si mesmo. E é verdade. Descobri que gosto de museus até cansar. Que a Torre Eiffel é mais bonita se vista do alto do Arco do Triunfo. Que em Londres as pessoas passam mais tempo nos túneis do metrô do que caminhando na superfície. Que malas de rodinha não combinam com as ruas de Roma. Que ruas estreitas e escuras podem ser charmosas como em Barcelona e que Pastéis de Belém é o melhor doce do mundo. E que os amigos tem um poder mágico de iluminar nosso olhar e nosso sorriso.
2010 me ensinou que nada substitui a família da gente. E que cada minuto deve ser vivido como se fosse o último. Me mostrou que um abraço pode ajudar a levantar na hora mais triste.
2010 ajudou a cicatrizar feridas. Me levou a conhecer um mundo novo e saboroso entre panelas e taças de champagne. Me apresentou pessoas novas e criativas e que vivem a vida de uma maneira bem mais leve que a minha.
Este ano também trouxe descobertas profissionais e me proporcionou viver uma das histórias mais tristes e bonitas da minha vida como repórter. Me levou ao Rio e me mostrou que a gente sempre pode mais do que acha realmente pode.
E num caderno vermelho de bolso, 2010 me mostrou que posso ser mais hábil com as palavras, me encorajou a colocar no papel o que antes ficava restrito ao pensamento. E 2010, em conluio com o Destino, me mostrou com ser feliz.
Fazendo uma lista assim, rápida e dos principais momentos desse ano, eu chego a conclusão: quando, no mais criativo dos momentos regados a champagne da noite de 31 de dezembro de 2009 eu poderia imaginar um 2010 assim? Acho que a minha imaginação não chegaria a tanto.
E por isso eu decidi. Sem listas nesse Réveillon. Que 2011 se encarregue das surpresas!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Resumo das novelas

Sempre ouvi dizer que a pressa é a inimiga da perfeição e que o apressado come cru. Mas volta e meia me pego pensando qual a diferença entre o apressado e ao ansioso. Cheguei a uma conclusão. O ansioso não aguenta esperar. A pressa é uma consequência da sua angustia. O ansioso sofre por antecipação. Sofre pela possibilidade. Sofre pelo silêncio, pelo talvez.
O ansioso mal vive o hoje. Ele quer saber o que vai acontecer o amanhã. Como o cara que não espera pelo capítulo da novela e compra uma revista para ler o resumo da semana toda. Não é pela curiosidade e sim pela ânsia de saber. A dúvida consome o ansioso.
Como aquele que não aguenta ler um texto até o fim e corre logo para o final do livro. O ansioso estraga as surpresas. Embora ele goste delas, ele sempre quer estar a frente.
Quer sofrimento maior para o ansioso do que esperar por um exame, por uma consulta. Enquanto a resposta não for dada, seja sim, seja não, o ansioso estará se martirizando. Depois, passa e ele logo arruma uma dúvida nova para se preocupar.
Qual a sua dúvida agora?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Lealdade

É difícil encontrar alguém que nos entenda. Alguém que nos olhe nos olhos e, sem qualquer palavra, adivinhe exatamente o que queremos. Dizem que raramente encontramos alguém assim e, quando isso acontece, é mágico.
Vago sozinho pelas ruas de Porto Alegre, com fome e sede, um dia encontrei esse alguém. Não sei dizer quantos anos tenho. Sei que vivi o suficiente para me assustar com algumas coisas e não me surpreender com outras. De vez em quando eu faço aquela cara de quem caiu da mudança e arrumo um pouco de água e um prato de comida. Mas não um afago, não um olhar doce, não um amigo.
Até que um dia, numa dessas caminhadas sem destino encontrei um homem. Vestido de roupa laranja, daquelas que não tem como não ver nem no escuro, eu esbarrei nele. E foi de propósito. Deitado na calçada de uma rua cheia de árvores, ele dormia. O sono profundo e tranquilo me inspirou confiança. Me acheguei. Ele nem se importou, virou para o lado me dando espaço para deitar ao seu lado.
Não saí mais. Ele diz para todos os seus iguais que me conquistou com um pouco de água que aplacou a minha sede. Mentira. Ele não sabe, porque nunca conseguiu lhe dizer, que foi a sua respiração calma, o seu olhar tranquilo, a paz que ele me transmite.
Como não sei como dizer isso a ele, ando ao seu lado. Todos os dias. Faço isso para demonstrar-lhe minha afeição e gratidão, mas também porque sua companhia é a mais agradável de todas as que já experimentei. Não consigo ficar longe dele, de receber seu afago nas minhas costas, seus conselhos para não atravessar na frente dos carros.
Sou só um vira-latas perdido, com cara de riquinho mas sem qualquer pedigree. Eu era um cão errante, sem dono, sem destino, sem paradeiro. Não sou mais. Agora minha sina é andar ao seu lado enquanto recolhes as folhas secas caídas nas calçadas ou quando empurra aquele carrinho barulhento.
E vou continuar te olhando, com essa cara de quem não tem dono, mesmo já tendo. É a única forma que sei retribuir.

domingo, 7 de novembro de 2010

Chopp e lágrimas

Quanto tempo e qual distância separa os amigos? Sou da opinião que nenhuma. Sábado encontrei, sentada em uma mesa da bar na Cidade Baixa, uma amiga que não via desde março. No mesmo instante em que me aproximei da Jana, era como se a gente tivesse saído para tomar um café ontem.
A Jana mora longe, em Floripa. Desde março, quando voltou de Lisboa. A última vez que sentamos para conversar, para olhar uma nos olhos da outra e enxergar as feridas e alegrias de cada uma foi em Portugal, no início do ano. Mas na mesa daquele bar da Cidade Baixa parecia que tinha sido a cinco minutos.
A Jana tem o famoso "abraço quebra-costela". Só a gente abraça as amigas assim. Com força e o mesmo tempo com tanto carinho. E quem vê a Jana, pequenina, magrinha, não imagina que ela possa ser capaz de um abraço tão caloroso.
Entre um chopp e outro colocamos as fofocas em dia, como se a gente não se falasse por e-mail todos os dias. Olhar os amigos no olhos, segurar as mãos, ver que estão tristes ou felizes são outros 500. A Jana está sentindo falta da família e dos amigos. Ela não precisou dizer. Deu pra ver no fundo os olhos que se encheram de lágrimas quando eu e a Denise começamos a recordá-las das coisas que se passaram conosco em Roma e Lisboa. A Jana continua a mesma.
E depois de ver essa amiga, tão forte e tão corajosa, que me aconselha como se fosse uma irmã mais velha, fiquei com pena de que tenham sido tão poucas horas ao lado dela naquela mesma cerca de bolinhos e copos vazios. Foram poucas, mas intensas. A Jana faz muita falta. Mas um dia ela volta pra cá. Vai desfilar na Redenção com as saias longas, num estilo hippie, vai embalar o bebê da Deia e o da Gi. Vai dar gargalhadas com a Denise das piadas do Diego e vai chorar comigo. Pra compensar as lágrimas que deixei lá naquela mesa de bar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Do céu alaranjado

Nem todo mundo dá o devido valor a um pôr-do-sol. Acho que só quem dá valor é quem não pode vê-lo. Não, não estou falando das pessoas que não enxergam, mas sim das que são privadas deste espetáculo da natureza.
Gente que trabalha em lugares fechados ou sem janelas e que não pode assistir a lenta e gradual mudança de cores no céu. Me dei conta disso outro dia. Na sala de aula, entre 19h30min e 20h30min. Graças ao horário de verão.
Das grandes janelas dava para ver todas as tonalidades do céu. O vermelho, o alaranjado, o esverdeado e o azul que toma conta a cada minuto, como que cobrindo o sol com um lençol frio.
Tenho inveja de quem sai cedo do trabalho e aproveita os benefícios desse horário que começa em Outubro e termina em Fevereiro. Mais tempo para caminhar no sol sem suar as pencas. Mais tempo para sentar num café e apreciar a leve brisa que teima em despentear as mulheres. Mais tempo para jogar bola com os filho no quintal de casa sem atrasar a hora do tema e da janta.
É disso que sinto falta. Dessas horas de convívio. Talvez sinta mais falta das pessoas.
E é uma falta passageira que se vai quando o dia ganha uma hora a mais e as pessoas reclamam em voltar para o horário que tanto gostam. Pôr-do-sol e horário de verão só tem valor para quem não tem.

domingo, 31 de outubro de 2010

Gavetas limpas

Como a gente guarda bobagem. De tempos em tempos faço uma faxina nos armários. E encontro de tudo: roupas nunca usadas, embalagens vazias, papéis sem qualquer utilidade. Hoje foi um dia desses. Sempre me
surpreendo.
Em um bolso de um casaco encontrei um papel. Nele, anotado o celular de uma amiga que está em Londres. Numa gaveta dezenas de cartelas de remédio vazias. Compridos para a gripe que salvaram o inverno.
Numa pequena bolsa estava um prendedor de cabelos que achei que tinha perdido. Mas estava lá, guardado.
Mas me surpreendo com a quantidade de papeizinhos azuis e amarelos que entulham as gavetas. Aqueles de comprovantes de débito e crédito. Sinal de que pouco tenho usado dinheiro. Ou que estou gastando
demais.
Duas sacolas de lixo e uma gaveta limpa depois sinto uma leveza maior. Parece que agora, definitivamente, abri espaço para o novo. Bastante espaço!

sábado, 23 de outubro de 2010

Do you have gelol?

Sim, sou uma exagerada. E por isso no primeiro dia em Paris decidimos fazer um roteiro a pé, até cansar. Eu e a Denise, minha melhor amiga e companheira de indiadas, saímos de Parc La Villete para irmos ver a Torre Eiffel. Fazia muito frio. Mas a toca, os casacos e as luvas pesavam mas resolviam o problema. Desembarcamos do Metro na estação ao lado do Louvre e fomos caminhando. Margeando o Senna as horas e os quilometros iam passando e a gente não sentia. Parava para uma foto, para ler o mapa e seguíamos.
Naquela manhã de janeiro, as chuvas do inverno parisiense tinham dado uma trégua e fomos presenteadas por um lindo dia de sol. Horas depois, chegamos a Torre Eiffel. Parecia que tínhamos caminhados poucos metros, mas entre o para, volta e atravessa rua, já tínhamos nos perdido e nos achado. Subimos na torre, olhamos a cidade, choramos de emoção, ligamos para casa, e descemos.
Já começava a anoitecer e as duas seguiam animadas.
Fomos em direção ao Arco do Triunfo. De lá, disseram, vocês terão uma das mais belas vistas de Paris. A imagem da cidade luz e a sua famosa torre. Fomos. Caminhamos, caminhamos e quando chegamos ao arco, descobrimos que não havia elevador lá. Se quiséssemos curtir a paisagem teríamos que encarar os 387 degraus. Vamos, , já que estamos aqui.
E foi depois de subir e descer o arco e ainda caminhar pela Champs Élysées que estourei meus joelhos. Sim os dois. E esse era o primeiro de 28 dias de viagem. E agora?
Depois de muito insistir a Denise conseguiu me convencer a comprar uma pomada, um Gelol ou algo do tipo, para diminuir as dores.
Estávamos no Centro de Paris quando encontramos uma farmácia. Pensei, aqui alguém há de falar inglês. Entrei, procurei entre os medicamentos expostos e nada. Nada parecia com aquele tubo verde spray ou com a pomada. A solução era perguntar.
- Bonjour. Parle vous anglais? - perguntei a atendente.
- A little bit - respondeu ela, com cara de poucos amigos.
Tentei explicar em inglês que procurava por um remédio, algo para sanar a dor nos joelhos. E nada. A mulher não entendia uma vírgula. Aí tentei de tudo. Mostras as palavras no dicionário Francês/Português, fazer gestos, dizer palavras soltas. Nada dava efeito. E quando chega nesse ponto a gente não sabe se ri de nervoso ou do papel de bobo. Minha última tentativa foi dizer:
- Do you have Gelol?
Em vão. Em meio a gargalhadas minhas e da Denise, compadecida com a situação, a atendente nos olhou e disse:
- To put the inflamation out!
- Yes! Yes!
E lá se foi para o fundo da farmácia. Momentos de tensão. E eis que ela voltou com um tubo de Cataflam gel. Santo remédio. Salvou a viagem.
Fica a lição. Levar todo tipo de remédio na bagagem. E fica a dica para as empresas farmacêuticas, mesmos nomes em todo o mundo. Os viajantes agradecem!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Insônia criativa

Poucas coisas me tiram o sono. Diria que isso é quase impossível. Mas vez que outra perco o sono. E quando isso acontece, não há santo que me faça dormir. Então, escrevo.
Escrevo para tirar as ideias da cabeça. Para ordenar os pensamentos. Talvez no papel ou na tela do computador elas se diluam e me deixem descansar.
Em geral, o que me tira o sono são incertezas. Não saber se estou tomando o caminho certo. Se falei as palavras que precisam ser ditas. Se entendi o que quiseram me dizer.
Para uma pessoa ansiosa, esperar para que as coisas aconteçam no seu tempo é quase que torturante. Sou assim: sofro por antecipação. Quase que de graça. Se der certo, sofri. Se der errado, já sofri também. A dor é garantida.
O silêncio da noite e a falta de sono só me fazem pensar e repensar. Enquanto a luz da sinaleira da esquina entra pela janela do quarto, alternando entre o vermelho, o amarelo e o verde, os meus pensamentos não mudam. Quase sempre a dúvida é a mesma do semáforo. Parar? Esperar? ou Seguir?
Se a sinaleira queimar e os sono chegar, as dúvidas passam.
Santo travesseiro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Bolhas calmantes

Para que mesmo serve o plástico bolha? Para ser furado, ora. Vai dizer que você nunca se pegou se divertindo bem mais com o plástico bolha que embala a caixa do DVD que chegou pelo Correio do que propriamente com o filme? Todo mundo faz isso.

Parece automático. Você desembala o pacote com todo cuidado para não rasgar o plástico e estourar acidentalmente alguma daquelas bolhinhas calmantes. Tem gente usa plástico bolha e o hábito de estourá-lo no lugar de remédios calmantes ou florais. Até que vira um vício.

Um belo dia você sai de casa desesperado para estourar algumas bolhinhas, mas aonde comprar plástico bolha? Eu nunca achei para vender. Então você passa em frente a uma loja de cristais. Peças delicadas, que se quebrariam ao mais delicado toque. Cristais em forma de taças, cinzeiros, vasos, elefantes e até um crucifixo. Mas você não quer os cristais, não precisa de taças de vinho tinto ou de um centro de mesa novo. Você quer o plástico bolha. Logo, peças que correm o risco de se quebrar tão facilmente só podem ser embaladas pelo melhor plástico bolha do mundo.

Claro que deve haver vários tipos de plástico bolha. Da mesma maneira em que os vídeo-games são feitos de fase. Você começa pelos mais simples, os que estouram com mais facilidade. E aos poucos vai se especializando na arte de estourar essas deliciosas bolhinhas e avança de fase. Plásticos mais espesso, bolhas maiores. Tri bom.

Mas vamos voltar a loja de cristais. Aí você escolhe o vaso mais alto e de boca bem larga. Quanto maior a peça, mais plástico bolha. O preço nesta altura do campeonato pouco importa. Cinco vezes no cartão de crédito e pronto. Ainda bem, pois afinal, nesta altura do campeonato você daria um rim por cinco centímetros quadrados daquelas bolhinhas. Sai da loja com dois quilometros e meio de plástico bolha. Alegria pra um final de semana inteiro.

O vaso vazio fica na estante. Juntando poeria. Já o plástico bolha, que não tem mais nenhuma bolha inteira, esse sim merece destaque ao lado o sofá e em frente a tv.

Cansei...

Cansei de ficar em casa esperando que a vida aconteça. Cansei de esperar pelo trem na plataforma da estação. Cansei de esperar o elogio que tu nunca me fez. Cansei de jogar na loteria e nunca acertar mais do que um número. Cansei de tocar a companhia das casas vazias.

Faz muito tempo que cansei. Foi quando acordei. Quando parei de correr atrás e respirei. Olhei para a direita. Para a esquerda. Olhei para trás e vi que a vida tinha ficado lá longe. Nada me pertencia, nada era meu. Eu corria por coisas que não eram para mim. o carrinho que eu empurrava, pesado, não tinha nenhum pertence meu.

Foi aí que eu finalmente parei. Parei de novo. Respirei um, duas, três vezes. Começou a chover. As gotas da chuva pareciam entrar pelos meus poros e lavar todo aquele ranso que me me acompanhou por anos. Estava limpa. Zerada. Podia seguir. Só não sabia para onde.

Por muito tempo fui para onde me diziam para ir. Ia para não andar sozinha. Ia para não me sentir solitária. Mas me sentia solitária mesmo assim. Caminhava com pessoas ao meu lado que pareciam não me ver. Era uma invisibilidade visível.

Demorou para que eu me desse conta disso. Larguei o carrinho que, eu mesmo sem saber para onde ia, eu continuava empurrando. Fui deixando as coisas pelo caminho. Esvaziando o carrinho. Agora quero colocar coisas novas e antigas mas que sejam minhas. Coisas que eu queria, que eu goste. Coisas que eu deseje e ame.

Vou seguir caminhando. Mesmo sem fôlego, ofegante quanto aquela criança que corre atrás do vendedor de sorvete na beira da praia. Cansei, mas respiro mais uma vez. A recompensa promete ser gratificante como um picolé de limão sob o sol escaldante de Cidreira.